quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

António Feio



" Há meses atrás, no final de 2009, numa altura em que surgiram dores e desconforto, pediram-me que conversasse com o António para ver como o podia ajudar. Sabia que se tratava de uma doença incurável, que era importante ajudá-lo a ter qualidade de vida, a não estar em sofrimento, enfim, a viver intensamente. É isso que fazem os Cuidados Paliativos, muito antes de qualquer pessoa doente vir a falecer, e muito longe da ideia de que «não há nada a fazer» quando alguém não se cura. Foi isso que expliquei inicialmente ao António, tentando perceber o que era para ele central nos seus planos, o podia ou não ser concretizado e o que mais o preocupava. Falámos de muita coisa, nessa altura com uma preocupação especial em que ele se mantivesse em condições de trabalhar e que pudesse conduzir o seu querido Porsche! Isso foi garantido através de medicação, e através dos resultados o António viu bem que a morfina e os seus derivados quando bem usados, ajudam os doentes a ter qualidade e normalidade de vida, não são “drogas”, nem apressam a morte. Para ele era fundamental, foi-o até ao fim, que não estivesse em sofrimento, sobretudo físico. Essa garantia foi-lhe dada e felizmente pôde ter acesso aos meios que a medicina tem hoje, os Cuidados Paliativos, para que nenhum doente esteja em sofrimento intolerável.
            O António não viveu esses tempos como refém da doença, e «apesar da doença», deu exemplo de que era muito mais do que as limitações que ela lhe ia progressivamente impondo.”

Escrito pela Dra. Isabel Galriça Neto que é presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos e directora da área de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz.

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